Quando anunciaram que Jorge Luis Borges seria homenageado com o título de Doutor Honoris Causa da Universidade do Chile, o escritor recebeu um telefonema de Estocolmo. A voz ao telefone foi clara: se aceitasse o título, jamais ganharia o Nobel. O Chile, à época, estava sob a ditadura de Pinochet. Borges respondeu: "Veja, senhor; eu agradeço por sua amabilidade, mas depois do que o senhor acaba de me dizer, meu dever é ir ao Chile. Há duas coisas que um homem não pode permitir: subornos ou deixar-se subornar. Muito obrigado; tenha um bom dia".
Borges visitou o Chile, recebeu a homenagem e ainda foi condecorado, por Pinochet, com a Grã-Cruz da Ordem do Mérito Bernardo O'Higgins. Era o ano de 1976. Em 1977, recebeu o mesmo título da Sorbonne. Em 1979, a Medalha de Ouro da Academia Francesa. Em 1980, o Prêmio Cervantes, o maior prêmio literário dos países de língua espanhola... e essas foram só algumas das homenagens.
Sim, Borges produziu uma obra genial, que o colocou acima de todas as diferenças políticas. Mas a certeza da importância de seus escritos não apagou nele a coragem que nasce de uma profunda coerência. E a coragem, de uma forma ou de outra, é sempre premiada. "Há duas coisas que um homem não pode permitir: subornos ou deixar-se subornar. Muito obrigado; tenha um bom dia".
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